sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tradição zombo

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Tese de Doutoramento
Os Zombo na Tradição, na Colónia e na Independência ( Nzil'a Bazombo )


Este subgrupo étnico, também conhecido por Bazombo, Bambata (Ba Mbata), foi considerado como a elite mercantil da região de M’Bata e parte integrante do célebre Reino do Kongo . O seu chefe ancestral, Nsaku Ne Vunda ou Mani Mongo exerceu durante séculos o poder terreno sob o manto sagrado matrilinearda kanda Nsaku.

A sua privilegiada localização geográfica, entre o Norte de Angola e o Sul da República Democrática do Congo está implantada num extenso planalto situado entre 1000 a 1100 metros de altitude e esta prerrogativa terá estado na base da escolha das íntimas relações que vieram a estabelecer-se entre o mítico Nimi a Lukeni, o”mwana” de Nsaku (leia-se o rimogénito) e a autoridade mítica do grupo Kongo. O seu chefe Mani Vunda era o legítimo herdeiro do poder religioso e o principal eleitor dos reis.

Usaram e usam ainda, o poder religioso como suporte fundamental do seu mando, porém, com uma singularidade: sublimaram esse mesmo poder no controle das rotas comerciais entre o rio Zaire ao Norte e o rio kuanza ao Sul.
Foram e continuam a ser parceiros comerciais privilegiados entre outros, de portugueses, holandeses, franceses, belgas, ingleses, alemães, americanos e ultimamente de russos, cubanos, chineses e até coreanos.

Os Zombo souberam aproveitar das situações diplomáticas e comerciais em que intervieram (e continuam a intervir), assumindo-se agentes activos privilegiados entre os povos do interior e do litoral das bacias do rio Zaire e Kuanza. A sua apetência pelo tráfico de todo o tipo de mercadorias afectou profundamente a sua existência. O ambiente natural e a sua cultura imediatista, relacionada com o comércio de longa distância, levaram a que sejam considerados como comerciantes natos, daí, a sua sedução pelo comércio desde a mais tenra idade.

Palavras chave:
Angola, Congo, reino do Kongo, independência, comércio internacional, diplomacia, poder religioso, comércio local, elite mercantil, contrabando, clãs, colonização, magia e religião.
Publicada por José Carlos de Oliveira



O prefácio desta dissertação define claramente a razão da preferência pelos zombo como objecto de estudo, mais ainda, coloca a pedra angular, digamos o objectivo, nas reflexões acerca da sua capacidade de liderança nos negócios mercantis da zona de influencia do reino do Kongo, até ao último quartel do século XIX e dentro do espaço geográfico que hoje forma o triangulo entre três capitais de modernos estados da Africa Ocidental: a República Popular de Angola, a República Democrática do Congo, e a Republica Popular do Congo (Congo Brazaville).

O tema
coubesse uma zona de intervenção específica.
Os fundamentos políticos, sociais, económicos e culturais que se descrevem a seguir, pretendem suportar o enquadramento histórico-sociológico das comunidades humanas, sucessivamente implantadas, ao longo dos tempos, na Bacia Convencional do rio Zaire. Estes conceitos encontram explicação em termos de geografia humana, na antropologia cultural e social, vivida nos espaços das margens do grande rio, estando incluídos os seus afluentes e principais confluentes. Os contactos resultantes dessas aproximações impuseram, acima de tudo, às nações colonizadoras ocidentais, tremendos esforços de adaptação ao meio natural e social. Assim, as conclusões a que as potências colonizadoras chegaram, nos anos sessenta do século XIX, permitiriam um consenso geral para uma intervenção conjunta, embora a cada potência



 

A partir deste esboço de organograma, não pretendemos mais do que clarificar a compreensão dos pressupostos estruturais sociopolíticos da África pré-colonial. De seguida, passaremos à sua explicitação.

O desenvolvimento da família extensa africana trouxe com a prática da agricultura, o conceito de família, com regras certas, que veio alterar a noção instintiva de ‘acasalamento’. Por sua vez, a instituição do clã permitiu a existência de pequenas comunidades territoriais, com união genealógica, implicando a consanguinidade, consequência da convivência habitacional uns com os outros. A linhagem era assim comum e representada pelo patriarca, podendo o clã ser exogâmico e ter origem matrilinear ou patrilinear. Ao utilizarmos os dois últimos termos matricentrica e patricentrica, fazemo-lo com a intenção de enfatizar a ideia de “andar à volta de…”, estar orientado pelo centro, pegando nas palavras de Malinowsky, referidas por Arthur Ramos (1951: 185): ” (…) O exame realizado por Malinowski no grupo social dos melanésios da ilha de Trobiande, revelou que esses indígenas, vivem sob um regime de linha materna, isto é, sob um regime social em que a mãe forma o centro e o ponto de referência do parentesco[1], e em que a sucessão e a herança se transmitem em linha materna. Os filhos pertencem ao clã materno. Os meninos herdam a dignidade e a posição social do irmão da mãe, recebendo, meninos e meninas, como herança, os bens não do pai, mas do tio ou da tia do lado materno. (…). Por esta razão, inclinamo-nos e vimo-nos obrigados a aceitar, através da posição de Malinowski, a indicação de que, visto que a mãe é o centro, a posição do grupo será matricêntrica.



Este subgrupo étnico, também conhecido por Bambata (Ba Mbata), é visto como a elite mercantil da região de M’Bata. O seu chefe ancestral, Nsaku Ne Vunda, exerceu durante séculos o poder terreno sob o manto sagrado matrilinear da kanda Nsaku. Os zombo passaram a fazer parte do reino do Kongo com a designação de Ducado de M’Bata.[1] A sua privilegiada localização geográfica – um extenso planalto situado entre 1000 a 1100 metros de altitude – terá estado na base da escolha das íntimas relações que vieram a estabelecer-se entre o mítico Nimi a Lukeni, o“mwana” de Nsaku (leia-se o primogénito) e a autoridade mítica do grupo Kongo.

Sempre que duas sociedades entram em contacto, existe certamente, de ambas as partes, um aperfeiçoamento de que ambas virão a comungar. Todavia, o nosso caso tem a ver com sociedades detentoras de níveis tecnológicos distintos. Este desnível tecnológico acarreta grandes perigos, de vária ordem, para a plena realização deste tipo de contacto de culturas. Cabe aqui citar Neto (1964:18) quando este afirma:

Simão Gonçalves Toco, 1984. Fotografia oferecida ao autor.

Publicamos esse artigo pelo interesse que achamos representar aos zombos.

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